segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Vendem - se 311 Memórias

Eu fui uma criança da década de 90, cresci no meio do mato, no pé da Serra do Araçatuba, morava em uma reserva de mata atlântica que conseguiu sobreviver mesmo com o avanço do reflorestamento de pinus. No lugarejo havia apenas duas casas, a que eu morava com minha família, uma meia – água de três peças e uma chácara um quilômetro antes onde morava um simpático casal de velhinhos, Dona Placídia e Seu Nivaldo.
Mais novo de quatro irmãos, minha diversão era subir nas árvores, nadar no riacho, rolar no barranco até o Sol se por no horizonte. Quando não estava em casa, estava na roça. Enquanto meus pais cuidavam das plantações eu ficava numa sombra criando os meus mundinhos imaginários. Lembro que meu passatempo favorito era imaginar que eu escalava um edifício até a janela mais alta e lá entrava, tinha esse pensamento depois de ter visto a foto de um prédio numa revista e eu acreditava que quem morava nos apartamentos mais altos precisava da ajuda de uma corda para chegar até a morada.

Recordo-me que minha mãe ia uma vez por mês para o centro da cidade para fazer as compras de casa, com nome de santa, coincidência ou não, ela era milagreira, afinal meu pai ganhava o salário mínimo preciso fazer render o suficiente para alimentar seis bocas. Numa dessas idas ela me levou e naquele dia o Centro de Tijucas do Sul estava em polvorosa, tudo pelo fato da inauguração de uma loja de R$1,99. Entramos para conferir de perto e eu logo estava em êxtase no setor de brinquedos, eram bolas, carrinhos, bonecos entre outros. No meio de tantas opções uma me chamou a atenção, tratava – se um cofre em forma de bota, fiquei maravilhado, pois a bota tinha um furo no bico e com um dedão a mostra, toda vez que encostava naquele dedo ele saia para puxar uma moeda. Pedi para minha mãe comprar o objeto para mim e ela contou as moedas que haviam sobrado, devolveu um pote plástico à prateleira e fomos até o caixa, pago os dois reais, o senhor devolveu um centavo de troco, e assim aquele dedão do cofre puxou a primeira moeda para dentro e eu comecei minha coleção de moedas e de memórias. Os meses passavam e a cada visita ao pequeno Centro da pequena cidade de Tijucas do Sul era um brinquedo novo, exceto quando não sobrava R$1, 99 do curto orçamento da família Cardoso. Fiz sete anos, comecei a estudar e em razão disso não ia mais para o Centro com minha mãe, porém naqueles dias específicos dos meses eu ia estudar na ânsia de voltar pra casa e esperar pelo retorno da minha mãe. Quando a professora liberava os alunos eu guardava o material mais que depressa e voltava correndo pelas trilhas no meio da mata, desacelerando apenas quando avistava uma boiada pela frente (morria de medo de vaca). A pressa toda não era apenas para rever minha mãe, mas em parte pelo brinquedo que ela me traria e a moeda de um centavo para por no cofre. Eis que um dia ela não trouxe brinquedo e sim um Kinder – Ovo, pasmem vocês, mas em 1995 dava para comprar essa iguaria por R$1,99. Eu não sabia se comia a casca de chocolate ou se montava o brinquedinho, eram quatro ou cinco peças que depois de encaixadas formavam um bonequinho do Barney, dos Flinstones. Os meses passavam e a cada visita ao pequeno Centro da pequena cidade de Tijucas do Sul era um brinquedo novo, exceto quando não sobrava R$1, 99 do curto orçamento da família Cardoso. Fiz sete anos, comecei a estudar e em razão disso não ia mais para o Centro com minha mãe, porém naqueles dias específicos dos meses eu ia estudar na ânsia de voltar pra casa e esperar pelo retorno da minha mãe. Quando a professora liberava os alunos eu guardava o material mais que depressa e voltava correndo pelas trilhas no meio da mata, desacelerando apenas quando avistava uma boiada pela frente (morria de medo de vaca). A pressa toda não era apenas para rever minha mãe, mas em parte pelo brinquedo que ela me traria e a moeda de um centavo para por no cofre. Eis que um dia ela não trouxe brinquedo e sim um Kinder – Ovo, pasmem vocês, mas em 1995 dava para comprar essa iguaria por R$1,99. Eu não sabia se comia a casca de chocolate ou se montava o brinquedinho, eram quatro ou cinco peças que depois de encaixadas formavam um bonequinho do Barney, dos Flinstones.
Os meses passavam e a cada visita ao pequeno Centro da pequena cidade de Tijucas do Sul era um brinquedo novo, exceto quando não sobrava R$1, 99 do curto orçamento da família Cardoso. Fiz sete anos, comecei a estudar e em razão disso não ia mais para o Centro com minha mãe, porém naqueles dias específicos dos meses eu ia estudar na ânsia de voltar pra casa e esperar pelo retorno da minha mãe. Quando a professora liberava os alunos eu guardava o material mais que depressa e voltava correndo pelas trilhas no meio da mata, desacelerando apenas quando avistava uma boiada pela frente (morria de medo de vaca). A pressa toda não era apenas para rever minha mãe, mas em parte pelo brinquedo que ela me traria e a moeda de um centavo para por no cofre. Eis que um dia ela não trouxe brinquedo e sim um Kinder – Ovo, pasmem vocês, mas em 1995 dava para comprar essa iguaria por R$1,99. Eu não sabia se comia a casca de chocolate ou se montava o brinquedinho, eram quatro ou cinco peças que depois de encaixadas formavam um bonequinho do Barney, dos Flinstones. Os meses passavam e a cada visita ao pequeno Centro da pequena cidade de Tijucas do Sul era um brinquedo novo, exceto quando não sobrava R$1, 99 do curto orçamento da família Cardoso. Fiz sete anos, comecei a estudar e em razão disso não ia mais para o Centro com minha mãe, porém naqueles dias específicos dos meses eu ia estudar na ânsia de voltar pra casa e esperar pelo retorno da minha mãe. Quando a professora liberava os alunos eu guardava o material mais que depressa e voltava correndo pelas trilhas no meio da mata, desacelerando apenas quando avistava uma boiada pela frente (morria de medo de vaca). A pressa toda não era apenas para rever minha mãe, mas em parte pelo brinquedo que ela me traria e a moeda de um centavo para por no cofre. Eis que um dia ela não trouxe brinquedo e sim um Kinder – Ovo, pasmem vocês, mas em 1995 dava para comprar essa iguaria por R$1,99. Eu não sabia se comia a casca de chocolate ou se montava o brinquedinho, eram quatro ou cinco peças que depois de encaixadas formavam um bonequinho do Barney, dos Flinstones. Eu fui uma criança feliz, hoje não tenho mais o cofre, não sei se foi perdido na mudança ou alguém jogou fora mas ainda guardo as moedas, além das moedinhas de troco dos brinquedos, as pessoas criaram o hábito de doar pra mim o que pra eles não tinha valor, devido a isso hoje possuo trezentos e onze centavinhos. Ano de 2016 e hoje tenho 27 anos e sou um escritor frustrado, histórias pra contar tenho muitas, não fosse a vida na cidade grande que está difícil. Para pagar as contas preciso trabalhar em um emprego que não me faz feliz, tenho ideia para um livro, mais especificamente um romance, porém a inspiração é maior a noite e como trabalho durante o dia não posso fazer o que mais amo, escrever. Eu sinto que o meu livro faria sucesso e eu poderia dar o conforto que os meus pais merecem, afinal eles já fizeram tanto por mim. No interior a criação é “xucra”, embora hoje eu perceba que cada sacrifício feito para comprar um brinquedinho ou um Kinder – Ovo era uma forma dos meus pais me dizerem: “filho, eu te amo”. Com um aperto no peito eu declaro que estou disposto a me desfazer da minha coleção de moedinhas para que com o dinheiro da venda da mesma eu consiga me dedicar à carreira de escritor e consequentemente ajudar os meus pais, que hoje formam um simpático casal de velhinhos morando numa meia – água de três peças, Dona Paulina e Seu Bide.





sábado, 12 de julho de 2014

Haikai

    Sob as calçadas
Há jardins sufocados
 Querendo germinar

Biscoito ou bolacha?

Seres humanos, únicos animais dotados de racionalidade. Ter o dom da razão tornou possível aos primeiros hominídeos sobreviver às agruras da Pré-História e assim consequentemente sobressair-se as demais espécies de seres vivos. À medida que os homens-das-cavernas foram fazendo pequenas (grandes) descobertas, facilitando assim suas vidas, sobrava tempo para pensar, nosso maior privilégio e ao mesmo tempo nossa maior tortura. Não é por acaso que apenas seres pensantes têm problemas psíquicos (doença da vaca louca não vale). Descobrimos a escrita e assim passamos da Pré-História para a História. O pensamento foi evoluindo e a História precisou ser periodizada. Idade Antiga, seguida pela Média, Contemporânea, Moderna e há correntes de antropólogos que defendem a tese de estarmos vivendo numa nova era, é a evolução do pensamento que não cessa.
Se para os homens primitivos havia apenas a opção de ser um caçador, atualmente existe um vasto leque de ofícios e com a constante evolução tecnológica, novas profissões surgem a cada dia. Qual carreira seguir? Na medida em que vai se aproximando a maioridade, aumentam as pressões, tanto internas quanto externas. Fazer àquilo para qual se tem aptidão ou optar pelas áreas mais rentáveis são apenas as duas primeiras questões. Não obstante, nem sempre a família estará de acordo com o ramo que seus pupilos decidem seguir (descendentes de famílias tradicionais de médicos, advogados e alfaiates que o digam).
Quando se trata de paquerar, pululam pontos de interrogação das cabeças de grande maioria dos bailarinos da dança do acasalamento. Se no tempo das cavernas bastava ter um porrete para dar início a um intercurso amoroso, atualmente constitui uma tarefa enormemente complicada, embora o instinto selvagem ainda se faça presente nessas ocasiões. Protuberâncias ou inteligência? Na hora do flerte a primeira opção costuma falar mais alto mas, como seres pensantes que somos, bastam cinco minutos de conversa para concluir se é apenas um corpo ou se além disso, vem como adicional um cérebro atuante. Se todos fossem iguais não existiriam os conceitos de feio e belo, estúpido e inteligente, tornando assim nossa existência um tanto quanto monótona.
Todas as pessoas pensam (é o que se espera), embora sob óticas diferentes a respeito do mesmo assunto. Esses embates de ideias são responsáveis por simples discussões assim como por devastadoras guerras entre nações. Viver em sociedade exige que os cidadãos sigam a linha do “politicamente correto”, aqueles que pensam diferente não são vistos com bons olhos. Até que ponto vale a pena ser uma maria-vai-com-as-outras ou seguir o que a própria mente incita? Se na história não houvesse corajosos que desafiassem o senso comum, ainda acreditaríamos na teoria do nosso planeta ser quadrado.

Não tem como não pensar, pensar é inerente a nossa espécie, portanto cabe a cada indivíduo dirimir suas próprias inquietações evitando assim que o tempo passe e o sujeito encontrem-se parado numa bifurcação, sem saber por qual direção seguir. A propósito, a vida é cheia de bifurcações. Biscoito ou bolacha? Discussão que parece não ter fim embora sejam a mesma coisa, porém enquanto uns desperdiçam tempo decidindo qual nomenclatura é a correta, outros estão devorando-os.